O mito do PARTO SECO: Se a bolsa estourar toda a água vai sair e o bebê vai estar em perigo?

 Por: Bruna Estrela

O mito do PARTO SECO: Se a bolsa estourar toda a água vai sair e o bebê vai estar em perigo? Vem entender com a gente! 

Nas novelas é muito comum vermos esta cena: a bolsa da gestante rompe e todos saem correndo para o hospital, desesperados. Mas, existe mesmo algum risco depois que a bolsa rompe? Será que todo o líquido sai e o bebê pode morrer asfixiado? Hoje vamos entender melhor sobre o chamado “Parto seco”.

Primeiro: O QUE É A BOLSA D’ÁGUA?

A bolsa de água é uma espécie de “saco” membranoso cheio de líquido (o líquido amniótico) que envolve o bebê e serve para protegê-lo de traumas mecânicos (por exemplo, quando a mulher cai ou sofre uma pancada na barriga), para hidratá-lo e regular a temperatura dentro do útero. Em geral, ela rompe naturalmente no início do trabalho de parto ou durante sua evolução, conforme o colo uterino dilata, afina e a pressão exercida pela cabeça do bebê aumenta.

E SE MINHA BOLSA ROMPER?  

Quando a bolsa se rompe, o quadro é chamado “bolsa rota”..Não há motivo para pânico, pois a bolsa rota não apresenta perigo ou risco.  Siga seu plano de parto normalmente, comunicando sua parteira, enfermeira obstetriz ou médico. Lembre-se: o parto pode levar ainda muitas horas ou mesmo dias. 

E O PARTO SECO? O BEBÊ PODE FICAR COMPLETAMENTE SEM LÍQUIDO AMNIÓTICO?

O parto seco NÃO EXISTE! O ambiente uterino nunca torna-se seco. Quando a bolsa rompe, a cabeça do bebê funciona como um tampão no colo uterino, não permitindo que todo o líquido escape. Além disso, o corpo continua produzindo liquido amniótico enquanto o bebê estiver lá dentro, além do muco que o colo uterino secreta para manter lubrificado esse ambiente.

Existem ainda situações onde a bolsa não sofre um “rasgo” grande, mas apenas um furinho, e a gestante vai perdendo liquido de pouco em pouco. Nesses casos a conduta a se adotar é exatamente a mesma.

QUANDO EU DEVO ME PREOCUPAR COM A BOLSA ROTA?

1. Se a bolsa romper antes de 37 semanas de gestação

Nesse caso a mulher deve buscar atendimento médico imediatamente, pois o bebê ainda é prematuro e o parto deve ser inibido, mantendo o bebê pelo máximo de tempo ainda dentro do útero)

2. Se tiver mecônio

Se o liquido liberado for esverdeado ao invés de transparente, é sinal de que o bebê fez cocô dentro do útero, o conhecido “mecônio”. O mecônio por si só não é um sina de perigo, já que de forma isolada ele apenas indica maturidade fetal (que o bebê está pronto), mas é um sinal de alerta. É aconselhável que a gestante acione seu médico obstetra para que haja monitoramento da vitalidade fetal durante o trabalho de parto.

3. Se a gestante for Streptococcus B +

Em torno de 35 semanas de gestação, o médico obstetra deve solicitar um exame para verificar se a mulher possui colonização vaginal pela bactéria Streptococcus B. Caso o resultado deste exame seja positivo, a bactéria pode oferecer risco em caso de bolsa rota por longas horas sem que se dê o início do trabalho de parto. Mas, vale ressaltar, o número de mulheres positivas para Streptococcus B que virão a ter complicações é muito, muito pequeno. Antes de tomar uma decisão de ir ou não para o hospital no início do trabalho de parto, converse com sua doula para saber exatamente os prós e contras. 

QUANTO TEMPO POSSO ESPERAR APÓS A BOLSA ROMPER?

De 70 a 80% das mulheres com bolsa rota entrarão em trabalho de parto espontaneamente em no máximo 12 horas após sua ruptura. Porem, como o trabalho de parto é algo peculiar e variável de mulher para mulher, esse tempo pode se estender em muitas horas e até dias, sem que indique perigo ou necessidade de cesariana. Alguns estudos sugerem que após 16 horas de bolsa rota sem sinal de TP haja monitoramento do bebê dentro do hospital. No entanto, a conduta a ser adotada nessa situação é muito pessoal e deve levar em consideração o desejo da gestante, já que sabemos que a transferência da parturiente no início do TP (ou ainda antes dele) para o ambiente hospitalar resulta em dificuldade na progressão do parto e aumento das intervenções desnecessárias.

Por isso, se você estiver com mais de 37 semanas e sua bolsa romper, fique tranquila! Se o liquido estiver claro, é só esperar tranquilamente o desenrolar do inicio do TP e conectar-se ao seu bebê e os sinais do seu corpo, lembrando-se de beber bastante água sempre. Encare o rompimento da bolsa como um prenúncio do grande momento que está por vir: seu parto!

E lembre-se: O PARTO SECO NÃO EXISTE! O que existe é a falta de paciência de alguns profissionais da saúde em esperar o tempo necessário para o trabalho de parto se iniciar.

Um grande beijo,

Bruna Estrela.

Trazemos também pra vocês, o relato de uma mãe que passou por cesárea com a justificativa de parto seco (entre outros!): 

PS: Meu carinho por você, Elis, que foi uma das primeiras pessoas a se prontificar em contar sua história quando essa série começou! Obrigada por mesmo com toda a violência obstétrica e as marcas que o seu não-parto te deixaram, se dispôr a dividir sua história com outras mulheres. Tenho certeza que são relatos como o seu, mostrando que a cesárea dá errado sim, que existem riscos reais e que ninguém está livre deles, que mais mulheres despertarão para a escolha da via de parto de seus filhos. Muita saúde e luz sempre pra você e sua pequena! Gratidão! <3

Como sou funcionária pública, tenho plano de saúde e todo o meu acompanhamento seria feito sem custo algum. Mas como desde o começo não senti confiança no médico do plano, fiz meu pré-natal também com uma médica particular. Foi ela que diagnosticou minha pressão alta e aos seis meses a diabetes gestacional. Fiz acompanhamento com o cardiologista e ele me liberou para o parto normal. Mas como o diabetes que tive foi bem agressiva, tive que fazer uso de doses cada vez maiores de insulina.

A doutora que me atendia faria meu parto normal, mas o valor que ela cobrou estava acima do que eu poderia pagar. Além disso, sendo o parto particular, eu tinha medo da bebê precisar de UTI e outras coisas e a internação sair cara demais.

Então decidimos fazer com o médico do plano mesmo. Ele marcou minha cesárea para 30/11, mas entrei em trabalho de parto no dia 24/11. Quando cheguei no hospital eles avisaram o médico e por telefone ele mandou preparar o centro cirúrgico. Fiz o maior escândalo e me recusei a ir pro centro cirúrgico, queria ter minha filha de parto normal. Quando ele chegou, ficou muito bravo, fez meu toque e disse que eu não tinha dilatação suficiente e que o líquido da placenta estava praticamente no zero, que eu teria parto seco. Fez um ultrassom e disse que a bebê pesava mais de 4 kg e que eu colocaria a vida dela em risco se tentasse parto normal, e a minha também por causa da pressão alta.

Depois disso tudo, cedi ao terrorismo e no dia 25 quando amanheceu ele fez a cesárea, mesmo tendo diarréia e febre. Tive que tomar 3 anestesias porque não pegavam e ele queria fazer rápido. Tive uma recuperação lenta e dolorosa, e depois de tudo isso, quando voltei na médica particular, ainda ouvi que nada disso era necessário. Minha bebê nasceu com 3,5 kg e 48 cm. Podia ter nascido de parto normal sem problemas, se eles quisessem. Só depois fiquei sabendo da fama de cesarista dele. 

Elis Claudia Padilha - mãe da Ivy. 

Fonte: http://manhee.com.br/posts/o-mito-do-parto-seco-se-a-bolsa-estourar-toda-a-agua-vai-sair-e-o-bebe-vai-estar-em-perigo