terça-feira, 1 de março de 2016

Sobre bolsa rota e antibióticos


Por: Dra. Melania Amorim (Go-PHD)

Existem evidências de boa qualidade recomendando a profilaxia intra-parto para Streptococcus do grupo B em todos os casos de ruptura prematura das membranas durando mais de 18 horas (penicilina cristalina ou ampicilina, sendo a primeira preferível em termos de minimizar o impacto sobre a flora intestinal do recém-nascido) ou em casos de parto prematuro (abaixo de 37 semanas), exceto se a paciente tem cultura vaginal NEGATIVA recente para esse germe. Outras indicações seriam febre materna durante o trabalho de parto ou história de recém-nascido anterior afetado por Streptococcus grupo B. Não há evidências apoiando a administração rotineira de antibióticos com a finalidade de prevenir corioamnionite/endometrite a partir de 6 ou 12 horas de bolsa rota.

Limites arbitrários como 6, 12, 24 ou 72 horas foram propostos sem evidências convincentes de seu impacto sobre o prognóstico materno e perinatal. Um estudo não-randomizado publicado em 1995 incluiu 566 mulheres e evidenciou que aguardar 12 ou 72 horas eram opções comparáveis em termos de complicações infecciosas e prognóstico gestacional (Shalev et al, 1995).

O maior estudo conduzido sobre o tema foi o TERMPROM Study Group (1996), publicado no New England Journal of Medicine. Realizou-se um ensaio clínico randomizado incluindo 5041 mulheres com bolsa rota, comparando indução (com ocitocina ou prostaglandina) com expectação por até 4 dias. As taxas de infecção neonatal (em torno de 2 a 3%) e de cesariana (em torno de 10%) foram semelhantes nos dois grupos, porém infecção materna foi mais freqüente quando se adotou conduta expectante. A taxa de corioamnionite foi 4% no grupo que recebeu ocitocina e 8,6% no grupo em que se expectou até quatro dias. Existem outros estudos do mesmo grupo analisando grau de satisfação materna, impacto econômico e comparação de expectação em regime de
internamento versus domiciliar, posso disponibilizar para quem tiver interesse.

Interessante como poucos estudos estão disponíveis. O tempo "ideal" para se aguardar o início do trabalho de parto em casos de amniorrexe prematura a termo ainda permanece por ser estabelecido. Enquanto evidências de melhor qualidade não estão disponíveis, há que se considerar as características individuais e a vontade materna, depois do esclarecimento sobre possíveis riscos e benefícios pertinentes à indução versus expectação.

Amniorrexe prematura = ruptura da bolsa das águas (perda de líquido
amniótico) ANTES de se iniciar o trabalho de parto. Inclui todos os casos em que o trabalho de parto não se desencadeia nas primeiras duas horas depois da ruptura.

Amniorrexe precoce = ruptura da bolsa das águas no início ou até
duas horas antes do trabalho de parto.

Amniorrexe prematura A TERMO = a bolsa se rompe antes do início do trabalho de parto mas a gravidez já atingiu ou ultrapassa as 37 semanas de gravidez.

Amniorrexe prematura PRÉ-TERMO = a bolsa se rompe antes do início do trabalho de parto ANTES de 37 semanas de gravidez.

Corioamnionite = infecção da câmara âmnica, ou seja, das membranas e do líquido amniótico. Pode complicar os casos de bolsa rota prolongada e é mais freqüente quanto maior for o número de toques e maior o tempo entre o primeiro toque e o parto, donde o axioma que repito: SE TOQUE - NÃO TOQUE!


Fonte: http://parir.blogspot.com.br/2006/12/sobre-tempo-de-bolsa-rota.html

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