Por Maíra Libertad (Enfermeira Obstetra, parteira domiciliar e pesquisadora).
Tradução livre e adaptada de trechos do documento “Vaginal or
Cesarean Birth: What Is at Stake for Women and Babies?” (Parto vaginal
ou cesárea: o que está em jogo para mulheres e bebês?) da organização
Childbirth Connection, de 2012.
Referência completa: Childbirth Connection (2012). Vaginal or
Cesarean Birth: What Is at Stake for Women and Babies? New York:
Childbirth Connection. Full report available online at:http://transform.childbirthconnection.org/reports/cesarean. Companion materials for women available at:http://www.childbirthconnection.org/cesarean.
Sumário dos Resultados
Nossa avaliação abrangente revela o seguinte: De 14 resultados
adversos maternos relacionados à gestação atual, evidências suficientes
demonstram que 8 deles favorecem o parto vaginal [incluindo as mulheres
que planejaram parto vaginal inicialmente e tiveram cesárea] e
evidências limitadas sugerem que os 6 restantes também favorecem o parto
vaginal. De 4 desfechos adversos neonatais (relacionados ao bebê),
evidências suficientes demonstram que 1 favorece o parto vaginal,
evidências limitadas sugerem que 2 favorecem o parto vaginal e as
evidências são conflitantes (inconclusivas) sobre 1 desfecho restante.
De 4 doenças da infância analisadas, evidências suficientes demonstra
que 3 favorecem o parto vaginal e as evidências são conflitantes e
limitadas para o desfecho restante. Dos 3 resultados relacionados a
aspectos psicossociais examinados, as evidências são conflitantes, mas
sugerem uma possível associação com a cesárea em todos os 3. Em relação
às gestações subsequentes, dos 9 resultados adversos maternos avaliados,
evidências suficientes demonstram que 6 favorecem o parto vaginal no
nascimento anterior e evidências limitadas sugerem que os 3 restantes
também favorecem o parto vaginal anterior. Dos 6 resultados adversos
perinatais em gestações subsequentes, evidências limitadas sugerem que 2
favorecem o parto vaginal e os dados são conflitantes para os outros 4.
Dos 5 desfechos relacionados à disfunção do assoalho pélvico, nenhum
favorece o parto vaginal, a via de parto parece não influenciam em
outros 2 e 3 favorecem a cesárea, porém, desses 3, 2 favorecem a cesárea
apenas no curto prazo ou apenas no que diz respeito a sintomas leves ou
moderados. Dos 4 desfechos relacionados a lesões no bebê relacionadas
ao nascimento, a via de parto parece não fazer diferença para 3 deles,
nenhum favorece o parto vaginal e evidências limitadas sugerem que 1
favorece a cesárea.
Nota:
Nas situações em que as diferenças entre as vias de parto puderam ser
quantificadas, nós reportamos o tamanho dessas diferenças (diferença de
risco absoluto) em uma escala de “MUITO PEQUENO” até “MUITO GRANDE” de
acordo com as magnitudes padronizadas em um denominador de 10.000
[número de eventos em 10.000 nascimentos] (ver Tabela 1). A escala
padronizada permite que os leitores façam comparações de forma rápida e
fácil e 10.000 foi escolhido como denominador comum para capturar a
ampla variação nas taxas de diversos resultados avaliados.
Em
alguns casos, os estudos reportaram apenas razões de risco ou de chance,
o que significa que a diferença não pode ser quantificada [nestes
casos, está informado no texto que, apesar de haver uma diferença
positiva ou negativa em favor de uma das opções, ela não pode ser
quantificada com os dados dos estudos disponíveis]. A menos que mencionado de forma diferente, todas as diferenças foram
estatisticamente significativas, isto é, é improvável que se devam apenas ao acaso.
Que efeitos físicos podem ocorrer mais frequentemente em mulheres submetidas à cesárea? (quando se compara ao parto vaginal)
Morte materna: Mais mulheres parecem morrer como
resultado da cesárea, mas o número excedente não pode ser calculado a
partir dos estudos examinados.
Parada cardíaca: Evidências limitadas sugerem que um
número excedente MODERADO de mulheres saudáveis pode passar por uma
parada cardíaca associada à cesárea, comparadas com mulheres similares
que planejaram um parto vaginal.
Histerectomia de emergência: Um número adicional
PEQUENO a MODERADO de mulheres que são submetidas à cesárea passam por
histerectomias de emergência, quando comparadas a mulheres que têm um
parto vaginal.
Eventos tromboembólicos (coágulos no sangue): Um número adicional PEQUENO a MODERADO de mulheres saudáveis desenvolvem coágulos em decorrência da cesárea.
Complicações anestésicas: Evidências limitadas
sugerem que um número adicional MODERADO de mulheres saudáveis que têm
cesáreas pode passar por complicações com a anestesia, quando comparadas
com mulheres similares que têm partos vaginais espontâneos.
Infecções maiores: Evidências limitadas sugerem que
um número adicional MODERADO a GRANDE de mulheres saudáveis que têm
cesárea planejada passam por infecções pós-parto maiores, quando
comparadas a mulheres que têm ou planejam um parto vaginal.
Complicações raras e com risco de morte: Evidências
limitadas sugerem que mais mulheres apresentam embolia por líquido
amniótico ou pseudoaneurisma de artéria uterina depois de uma cesárea do
que após um parto vaginal, mas esse número excedente não pode ser
calculado dos estudos analisados.
Infecção da ferida (da cesárea ou perineal): Um
número excedente GRANDE de mulheres saudáveis submetidas à cesárea tem
infecções da ferida comparadas com aquelas que planejam um parto
vaginal.
Hematoma (da cesárea ou perineal): Evidências
limitadas sugerem que um número excedente GRANDE de mulheres saudáveis
tem hematomas da ferida após cesárea, quando comparadas a mulheres que
planejam um parto vaginal.
Deiscência da ferida (da cesárea ou perineal): Evidências
limitadas sugerem que um número adicional PEQUENO de mulheres saudáveis
submetidas à cesárea tem deiscência da ferida, quando comparadas a
mulheres planejando um parto vaginal.
Permanência no hospital: Cesárea planejada aumenta a duração da internação entre 0,6 e 2 dias, quando comparada ao parto vaginal planejado.
Readmissão no hospital após a alta: Um número adicional MODERADO a GRANDE de mulheres saudáveis que tiveram cesárea requerem reinternação após a alta.
Problemas com a recuperação física: Com a exceção da
presença de hemorroidas, que são mais comuns após o parto vaginal, um
número adicional GRANDE a MUITO GRANDE de mulheres que passam por uma
cesárea apresentam problemas de recuperação física, incluindo: saúde
geral, dores no corpo, cansaço extremo, problemas de sono, problemas
intestinais, habilidade para realizar suas atividades diárias e
atividades pesadas, quando comparadas a mulheres que têm partos vaginais
espontâneos.
Dor pélvica crônica: Mais mulheres apresentam dor
pélvica crônica depois de uma cesárea do que após um parto vaginal, mas o
número excedente não pode ser calculado a partir dos estudos
analisados.
Quais efeitos físicos relacionados aos bebês
podem ocorrer mais frequentemente após uma cesárea? (quando se compara
ao parto vaginal)
Mortalidade neonatal: Evidências limitadas sugerem
que os bebês de mulheres que têm uma primeira cesárea eletiva podem
estar sob maior risco de morte neonatal comparados a mulheres de baixo
risco planejando um parto vaginal, mas o número excedente de mortes não
pode ser calculado a partir dos estudos incluídos.
Síndrome do desconforto respiratório: Quando o
nascimento ocorre antes das 39 semanas, mais bebês nascidos por cesárea
apresentam síndrome da angústia respiratória do recém-nascido, mas o
número excedente não pode ser calculado a partir dos estudos analisados.
Hipertensão pulmonar: Evidências limitadas sugerem
que um número adicional MODERADO de bebês nascidos por cesárea eletiva
podem desenvolver hipertensão pulmonar.
Ausência de amamentação: Evidências conflitantes sugerem que bebês nascidos por cesárea podem estar sob risco adicional de não serem amamentados.
Qual papel a cesárea pode desempenhar no desenvolvimento de doenças crônicas da infância(quando se compara ao parto vaginal)
Asma: Cesárea aumenta a probabilidade de desenvolver
asma na infância, mas o número excedente de casos não pode ser
calculado a partir dos estudos analisados.
Diabetes Tipo 1: Cesárea aumenta a probabilidade de
desenvolver diabetes Tipo 1 na infância, mas o número excedente de casos
não pode ser calculado a partir dos estudos analisados.
Rinite alérgica: Cesárea aumenta a probabilidade de
desenvolver rinite alérgica na infância, mas o número excedente de casos
não pode ser calculado a partir dos estudos analisados.
Alergia alimentar sintomática: Evidências limitadas e
conflitantes sugerem que a cesárea aumenta a probabilidade de
desenvolver alergia alimentar na infância, mas o número excedente de
casos não pode ser calculado a partir dos estudos analisados.
Obesidade: Evidências limitadas sugerem que um
número adicional GRANDE de crianças nascidas por cesárea podem estar
obesas aos 3 anos de idade (quando comparadas às nascidas de parto
normal).
Quais são os potenciais efeitos das cesáreas nas futuras gestações e partos das mulheres?
Fertilidade prejudicada: Mais mulheres apresentam
problemas de fertilidade depois de uma cesárea do que após um parto
vaginal, mas o número excedente não pode ser calculado dos estudos
analisados.
Infertilidade voluntária: Um número excedente GRANDE a MUITO GRANDE de mulheres escolhe não engravidar novamente após uma cesárea.
Placenta prévia: Um número excedente PEQUENO de
mulheres com uma primeira gestação terminada em cesárea desenvolve
placenta prévia na gestação seguinte, mas o número excedente não pode
ser calculado a partir dos estudos examinados. Um número excedente
GRANDE de mulheres desenvolve placenta prévia após duas ou mais
cesáreas.
Placenta acreta: Um número excedente PEQUENO de
mulheres com um primeiro nascimento via cesárea desenvolve placenta
acreta na gestação seguinte. Um número excedente GRANDE de mulheres
desenvolve placenta acreta após múltiplas cesáreas.
Descolamento de placenta: Um número adicional
MODERADO de mulheres com primeira gestação terminada em cesárea tem
descolamento de placenta em gestações subsequentes.
Histerectomia: Um número adicional MODERADO de
mulheres com primeira gestação terminada em cesárea requer uma
histerectomia de emergência durante nascimentos subsequentes, quando
comparadas a mulheres com partos vaginais prévios. Evidências limitadas
sugerem que esse excedente aumenta em gestações subsequentes.
Ruptura uterina: Um número excedente MODERADO de
mulheres com cesárea prévia passará por uma ruptura uterina, quando
comparadas a partos vaginais anteriores.
Admissão em UTI: Evidências limitadas sugerem que um
número adicional GRANDE de mulheres com cesáreas prévias são admitidas
em UTI no nascimento seguinte, quando comparadas com mulheres com partos
vaginais anteriores.
Readmissão no hospital após a alta: Evidências
limitadas sugerem que um número adicional MODERADO de mulheres com
cesáreas prévias são readmitidas no hospital após a alta no nascimento
seguinte, quando comparadas com mulheres com partos vaginais anteriores.
Quais são os potenciais efeitos de um útero com uma cicatriz nos futuros bebês?
Óbito fetal: Dados são conflitantes, mas sugerem que
um número excedente PEQUENO a MODERADO de bebês crescendo em um útero
com uma cicatriz terão óbito fetal.
Óbito perinatal ou neonatal: Dados são conflitantes,
mas sugerem que mais bebês crescendo em um útero com uma cesárea podem
morrer no final da gestação ou uma semana após o nascimento, mas o
número excedente, se houver, não pode ser calculado a partir dos estudos
examinados.
Nascimento prematuro ou baixo peso ao nascer: Dados
são conflitantes sobre se uma cesárea prévia resulta em risco aumentado
de nascimento prematuro e concomitante baixo peso ao nascer.
Pequeno para a idade gestacional (PIG): Dados são
conflitantes sobre se uma cesárea prévia resulta em risco aumentado de
bebê PIG em uma próxima gestação, quando comparado ao de mulheres com
partos vaginais anteriores.
Necessidade de ventilação no nascimento: Evidências
limitadas sugerem que um número adicional GRANDE de bebês cujas mães têm
cesáreas prévias pode requerer ventilação (ajuda para respirar) no
nascimento quando comparados a bebês cujas mães tiveram partos vaginais
anteriores.
Estadia hospitalar maior do que 7 dias: Evidências
limitadas sugerem que um número adicional GRANDE de bebês cujas mães têm
cesáreas prévias tem uma internação de mais de 7 dias, comparados a
bebês cujas mães tem partos vaginais anteriores.
Fonte: http://vilamamifera.com/mulheresempoderadas/diga-tudo-mas-nao-diga-que-a-cesarea-e-tao-segura-quanto-um-parto-normal/