domingo, 6 de março de 2016

Mitos e Verdades de APLV

Em todo lugar achamos um achismo a respeito da APLV. Então vamos entender alguns mitos e verdades a respeito da doenca , para dessa forma conseguirmos conviver com essa patologia sem por a vida dos nossos babys em risco.

- AGORA TODO MUNDO TEM APLV E REFLUXO?

Agora todo mundo tem APLV e refluxo?

É verdade que o número de diagnósticos de APLV tem aumentado, mas isto não significa que o número de crianças com esta condição clínica tenha aumentado. Não há dúvida que a prevalência de doenças alérgicas em pediatria aumentou em geral, mas a maioria dos estudos continua colocando uma prevalência de APLV na ordem de 2 a 5% dos lactentes.
Na medida em que mais crianças são expostas precocemente ao leite de vaca isto pode elevar a prevalência.
Grande parte dos lactentes apresentam RGE fisiológico nos primeiros meses de vida, com episódios de regurgitação, na maioria das vezes não associados a sinais ou sintomas de complicações ou comprometimento nutricional. Entre 3 e 4 meses de vida, é descrito que 70% dos lactentes apresentem sintomas de RGE.
Sendo o RGE e a APLV duas condições prevalentes, não é de surpreender que muitas crianças tenham ambas as condições.
Na verdade uma pode interferir na outra, explico: os sintomas de RGE tem levado a muitos pediatras iniciarem inibidores de bomba de prótons ou bloqueadores H2 nestes lactentes, sendo que a redução da secreção ácida pode interferir na digestão proteica e consequentemente aumentar a exposição intestinal de proteínas ainda com epítopos alergênicos, favorecendo o desenvolvimento de resposta antigênica a estas proteínas. Por outro lado, crianças com alergia às proteínas do leite de vaca desenvolvem alterações motoras no trato digestório superior, com redução do esvaziamento gástrico, o que promove piora do RGE.
Sendo APLV de prevalência alta em lactentes, é recomendável que em lactentes com RGE sintomático, sempre se pense neste diagnóstico, submetendo a criança a um período de pelo menos 2 semanas de dieta de exclusão para confirmar ou descartar esta hipótese diagnóstica.
Assim, RGE e APLV são sim frequentes em lactentes e devem ser manejados com cautela para melhorar os sintomas que estas crianças apresentam.

-PACIENTE COM APLV TEM QUE SEGUIR DIETA ISENTA DE LEITE E CARNE DE VACA?

Paciente com APLV tem que seguir dieta isenta de leite e carne de vaca?

O leite de vaca é composto por muitas proteínas, incluindo as caseínas e as proteínas do soro. A beta-lactoglobulina é a proteína do soro do leite mais abundante no leite de vaca e uma das proteínas consideradas alergênicas por não estar presente no leite humano, mas também outras proteínas podem causar sintomas em lactentes como a caseína. Isto não significa que a criança tenha alergia à proteína de outros tecidos da vaca (como a carne) e sim a algumas proteínas que compõe o leite deste mamífero.
Alergia à carne é rara.
Muitas vezes se restringe a dieta das mães que amamentam quando se suspeita de alergia ao leite de vaca através do leite materno, excluindo assim o leite de vaca e todos os seus derivados da dieta das mães. A carne não é uma proteína considerada alergênica, especialmente quando cozida, pois o cozimento promove hidrólise com redução expressiva do seu potencial alergênico.
A exclusão da carne de vaca, para as crianças ou para suas mães, não está indicada rotineiramente, sendo indicada naqueles casos que não houve melhora dos sintomas apenas com a restrição das proteínas do leite de vaca, podendo ser excluídas também as proteínas do ovo e soja nestes casos.

- PARA A MÃE QUE AMAMENTA, É QUASE IMPOSSÍVEL SEGUIR A DIETA ISENTA DE LEITE DE VACA?

Para a mãe que amamenta, é quase impossível seguir a dieta isenta de leite de vaca?

A orientação por profissionais competentes e a maneira como as explicações são dadas para a mãe vão possibilitar que a dieta de exclusão seja feita de maneira adequada, sem riscos para a mãe e seu filho.
De modo geral, o médico e o nutricionista conseguem convencer a mãe da necessidade de iniciar a dieta de exclusão do leite de vaca e derivados com alguma facilidade.
Isso fica mais difícil quando vários alimentos podem ser os responsáveis pelas reações da criança.
Assim, a recomendação é de se iniciar apenas com exclusão do leite e derivados. Isso só deve ser ampliado para outras restrições como ovo, trigo, soja, entre outros, nos casos raros em que apenas a exclusão do leite não levou ao resultado desejado.

-CRIANÇAS COM APLV, ACIMA DE UM ANO DE IDADE, NÃO NECESSITAM MAIS DE FÓRMULAS ESPECIAIS?


A faixa etária de lactente estende-se do nascimento até os dois anos de vida. Assim, entende-se que até os dois anos a criança deve receber leite materno  ou “mamadeira”. O leite representa cerca da metade da ingestão energética no segundo ano de vida.
Alguns acreditam ser possível alimentar a criança entre os 12 e 24 meses apenas com alimentos (sem fórmulas) que não sejam administrados por meio de “mamadeiras”. Entretanto, esta prática pode levar a déficits dietéticos, como por exemplo, ingestão insuficiente de cálcio. Assim, nesta fase de vida, é necessário ofertar cerca de 600ml de “mamadeira” por dia.
Nos lactentes com alergia à proteína do leite de vaca que ainda necessitam da dieta de exclusão, normalmente são oferecidas as fórmulas de soja ou hidrolisadas, indicadas para lactentes menores de 1 ano. 
O ideal seria prescrever uma fórmula que atendesse às necessidades nutricionais nesta época da vida. 
A recente disponibilização de uma fórmula de aminoácidos adequada a partir do primeiro ano de vida (contém 1 caloria por ml) vem preencher esta lacuna nas opções de dietas especiais.
Esta fórmula também pode ser usada por crianças e adolescentes que necessitam da dieta de exclusão, como no caso de esofagite eosinofílica, alergia a múltiplos alimentos, ou quando não é possível manter um crescimento adequado, sem a oferta de uma fórmula substitutiva.
Quanto aos alimentos complementares a serem oferecidos a partir dos seis meses de vida, atualmente, considera-se não ser necessário retardar a introdução dos alimentos com maior potencial alergênico, como se praticava no passado.

- HÁ EXAMES QUE CONFIRMAM OU AFASTAM O DIAGNÓSTICO DE APLV?


Apesar de todos os esforços empreendidos nas ultimas décadas, não existe nenhum exame que permita estabelecer o diagnóstico de certeza da alergia ao leite de vaca.
Os testes cutâneos (Prick teste) e a pesquisa de anticorpos IgE específicos através de testes in vitro são testes que somente podem ser aplicados quando há suspeita de alergia alimentar IgE mediada (quadros de urticária, angioedema, broncoespasmo, anafilaxia) e podem ser úteis para direcionar a necessidade de realizar um teste de provocação.
Apresentam elevado valor preditivo negativo, ou seja, se negativos, nos casos IgE mediados, apresentam enormes chances de serem verdadeiramente negativos. Estes testes, entretanto, quando positivos indicam sensibilização e somente em 50% das vezes haverá uma relação causal entre o leite de vaca e o desenvolvimento do sintoma estudado.
Estes testes devem ser indicados e interpretados com cautela para evitar restrições dietéticas desnecessárias ou inadequadas. Nos casos de alergia mediada por células (não mediados por IgE) quando o aparecimento dos sintomas é tardio, o diagnóstico fundamenta-se na anamnese e exame físico detalhados, na melhora clínica na vigência da dieta de exclusão dos alérgenos e no teste de desencadeamento positivo, quando indicado.
Nos lactentes que são alimentados com leite materno exclusivo, a prescrição de uma dieta isenta de leite de vaca e derivados para a mãe é uma forma adequada de se confi rmar a suspeita diagnóstica.
Nos pacientes alimentados com fórmulas à base de proteína do leite de vaca, a prescrição de uma fórmula não alergênica (à base de aminoácidos) por 2 semanas é uma estratégia para se avaliar a resposta clínica confi rmando ou afastando o diagnóstico.
Se os sintomas persistem na vigência da dieta de exclusão, o diagnóstico de alergia alimentar é pouco provável.

-A APLV NÃO PRECISA DE TRATAMENTO POR QUE NÃO IMPÕE RISCOS?

A criança com APLV corre diversos riscos quando não atendida adequadamente. Nos pacientes em que a reação é mediada por IgE, a anafi laxia é o maior deles, e não deve ser ignorada. O outro risco é o déficit nutricional que se acentua na medida em que existe a demora na introdução da melhor terapêutica nutricional. Isto foi comprovado no estudo de Vieira et al (2010), realizado em nosso meio, que identificou baixa estatura em cerca de 24% dos lactentes com APLV.
Medeiros e col em 2004, seguindo em ambulatório um grupo de crianças com APLV e que vinham sendo submetidas a dieta de exclusão por mais de 9 meses, identifi cou um significativo comprometimento nutricional: ingestão calórica, de proteínas, lípides, cálcio e fósforo menor que aquela de um grupo controle e o mesmo acontecia com o peso/idade, estatura/idade e peso/estatura no grupo que recebia dieta de exclusão.
Um dos maiores objetivos no cuidado dos pacientes com APLV é garantir uma vida normal, mas sem escapes, especialmente se já houve relatos de anafi laxia pregressa. Neste contexto, orientar adequadamente a família e o paciente implicará em recomendações aos demais membros da família, aos cuidadores, aos auxiliares de ensino, entre outros.
Caberá ao médico orientar sinônimos, adequada leitura de rótulos e substitutos que sejam palatáveis e atendam às necessidades da criança no seu dia a dia. Algumas vezes pode ser necessária a orientação de dispositivos de adrenalina autoinjetáveis. 
Diversos estudos mostram que a história natural da APLV é diferente por causas ainda desconhecidas. Assim, para as alergias não mediadas por IgE, em geral a maioria das crianças já apresentam tolerância
até os 2 anos de idade. Para as alergias mediadas por IgE a variação é maior: cerca de 40 a 80% das crianças vão apresentar tolerância entre 3 e 12 anos idade.

-LEITE DE CABRA E FÓRMULAS “HA” PODEM SER USADOS NO TRATAMENTO DA ALERGIA AO LEITE?


O tratamento da alergia às proteínas do leite de vaca baseia-se na exclusão completa das proteínas alergênicas e oferta de fórmula com proteínas extensamente hidrolisadas (aminoácidos e peptídeos) ou fórmula com aminoácidos.
As características das proteínas do leite de cabra são muito semelhantes às da proteína do leite de vaca e estima-se que 90% das crianças com alergia ao leite de vaca apresentam reação imunológica com as proteínas do leite de cabraOu seja, o leite de cabra não proporciona exclusão das proteínas do leite de vaca. O mesmo ocorre com o leite de outros animaiscomo égua, ovelha e búfala.
Por sua vez, as fórmulas parcialmente hidrolisadas apresentam quantidade expressiva de epítopos íntegros (porções específi cas das proteínas que desencadeiam as reações alérgicas) em função da extensão das suas cadeias de aminoácidos. Desta forma, também não proporcionam retirada completa de todos os epítopos presentes nas fórmulas com leite de vaca ou leite de vaca integral e não devem ser usadas no tratamento da APLV. O objetivo das fórmulas com proteínas parcialmente hidrolisadas é a prevenção de doenças alérgicas para lactentes que não estejam em aleitamento natural exclusivo e apresentem antecedentes familiares de doenças alérgicas. De acordo com um estudo realizado na Alemanha, crianças alimentadas com fórmulas parcialmente hidrolisadas no primeiro semestre de vida apresentaram menor prevalência, ou seja, redução de cerca de 25% a 30% no risco de dermatite atópica dos três aos seis anos de idade em relação às que receberam fórmula infantil com proteínas não-hidrolisadas. Efeito com magnitude semelhante foi observado com uma fórmula com proteína (caseína) extensamente hidrolisada, que também pode ser usada no tratamento do lactente com alergia à proteína do leite de vaca.

- FÓRMULA DE SOJA OU HIDROLISADA É INTRODUZIDA E NÃO HÁ RESOLUÇÃO DOS SINTOMAS, NÃO É APLV?

Se o paciente estiver utilizando fórmulas à base de soja ou proteína extensamente hidrolisada e seguindo a dieta de exclusão do leite de vaca adequadamente, a manutenção de sintomas pode ser resultante do residual alergênico dessas fórmulas.
Portanto, quando a intenção é confirmar ou descartar o diagnóstico rapidamente, a estratégia mais segura é a substituição do leite de vaca por fórmula de aminoácidos (não alergênica), associada a uma orientação familiar bem detalhada(sobre leitura de rótulos, risco de contaminação cruzada no preparo dos alimentos, etc) e orientação sobre o uso de medicamentos, pois muitos contêm traços de proteína do leite. Se houver suspeita de alergia a outros alimentos, os mesmos também devem ser inicialmente excluídos da alimentação.

-SINTOMAS APARECERAM VÁRIOS DIAS OU SEMANAS APÓS O CONTATO COM O LEITE DE VACA, NÃO É APLV?


Os mecanismos envolvidos nas alergias alimentares são distintos: mediados por IgE; mecanismos mistos e mediados por células. As reações mediadas por IgE produzem manifestações clínicas mais precoces, minutos ou horas após a ingestão do suposto alérgeno, que resultam da liberação de histamina, prostaglandinas, leucotrienos e citocinas pelos mastócitos e basófi los ativados.
As manifestações que ocorrem de forma subaguda ou crônica são mediadas principalmente por mecanismos de imunidade celular (linfócitos T).
Nestes casos, os sintomas ou sinais podem ocorrer dias ou semanas após o início do contato com o leite, principalmente nos casos em que o paciente apresenta manifestações gastrointestinais e cutâneas

Fonte:www.alergiaaoleitedevaca.com.b

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