quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Mulheres treinadas a ser SUPER mulheres x maternidade real

Por que romantizamos o renascimento de uma mulher?
Por que não falamos das dores do parto normal, nem cirurgia cesariana com a falta de dor, mas uma imensa SOLIDÃO do centro cirúrgico?
Por que NÃO contamos que algumas mulheres não sentem um amor instantâneo pelo bebê, que algumas sentem medo, tristeza, vontade de sumir ou um medo imenso de 
perder aquela cria mesmo que super saudável?
Porque não falamos que a amamentação não é aquela beleza no inicio, temos dor, sentimos abandonadas, pressionadas, etc?
São tantos por quês?

Diante a minha experiência como mãe e por estar envolvida no meio de muitas mulheres, eu respondo através daquilo que eu vivi e vejo todos os dias; que...
Somos condicionadas a sermos super mulheres, já nascemos com imposição de regras sociais desde a maternidade.
Somos a princesinha da família, o bebê que já tem as orelhas furadas dois dias depois de ter saído do aconchego do útero da sua mãe. As garotinhas que terão lindos olhos brilhantes, cabelos arrumados com laços, vestidos lindos e bem passados, mãozinhas de anjo, roupas cor de rosa e bonecas.
As meninas que não poderão brincar na terra, pular em poças, usar roupas confortáveis, brincar de carrinho, obrigadas a ser a primeira aluna da sala, a criança independente que não poderá ter medo de escuro, porque já é mocinha. As brincadeiras serão somente de meninas e isso só implica em ter panelas, fogões, bonecas bebês, carrinhos de bonecas entre outras coisas de MENINAS

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O futuro idealizado pelos adultos em sua volta, será um namorado bonito, com uma boa condição financeira, não importa se você quer estudar, você precisa casar!!
Quando engravida solteira, os comentários são somente:
-Coitada, tão nova e sozinha para cuidar de um bebe!
- IIII quem mandou dar, não se preveniu. Agora aguenta?
- Humm e o papai?? Ai precisa pedir pensão.
Quando é casada:
- Que bom né? Agora a família vai estar completa.
- E ai já sabe o sexo?? Vai ser cesárea ou parto normal??
- Sete anos de casados né? Já estava na hora.
Durante a gestação não querem que façamos nada, parece que agora estamos doentes, fora a pressão para saber o sexo, sobre o parto, a estimativa de peso do bebê, o enxoval.
As 37 semanas vão se aproximando, agora é a saga do parto, todo mundo pressiona, inclusive o sistema.
- Dorme viu querida, porque depois, xiii acabou!
- E ai? É filho de jegue?
- Noooossa, não nasceu ainda??
- Meu Deus, vai passar do tempo. A filha da vizinha da irmã da minha vó ficou esperando o bebê ó morreu viu. Não espere.
- Que barriga gigante! Certeza que não tem dois ai não??
- Parto Cesarea? Sim. Ai que benção, como é bom ter grana né? Não passa dor.
- Parto Normal? Sim. Você ta louca? Que coisa mais retrograda! Parece nossa vó que pariu 20 na beira do rio, credo!
Nasceu, que felicidade!! Corre TODOS os parentes ver o criança na MATERNIDADE (C-NHORR), tira foto, passa de colo em colo, a mãe ali como se não existisse.
O bebe chora, só faltam arremessar a criança na mãe.
Em um só coro de 30 pessoas no quarto eis a pergunta: -Ele não está com fome??
A mulher encabulada, fala que não. Afinal acabou de nascer, estão se reconhecendo, se adaptando, talvez tenha vergonha de amamentar ali na frente de todos.
Acabam os dias de internação e ai vem a realidade, vão pra casa.
Geralmente a alta é bem na apojadura (descida do leite) e ai o bicho pega, ninguém contou pra ela e nem para o marido como era, dói, a temperatura aumenta, às vezes empedra, tem que ordenhar, bebe RN não dá conta de mamar tanto, os mamilos tem fissuras e isso dó demais.
As noites são intermináveis, as refeições frias (quando são feitas), a casa parece que passou um furação, bebe só quer colo e mama, os banhos longos já eram, tem 3 minutos com o marido sacudindo o bebe na porta para sair rápido.
As visitas inconvenientes na maioria das vezes, visita de 2 horas e ainda quer cafezinho, repara em tudo, aquele cartel de amigos malemá te mandam um whatsapp e a solidão é cada dia mais presente e isso perdura as vezes por anos.
Ninguém olha para essa mulher, ninguém pergunta o que ela está sentindo, como ela está, afinal ela foi treinada para ser uma SUPER mulher, com poder para realizar tudo sozinha, não vale pedir socorro.
Está TUDO errado! PRECISAMOS acolher essas mulheres, PRECISAMOS falar da maternidade nua e crua, PRECISAMOS gritar as nossas escolhas.
PRECISAMOS nos unimos em prol das nossas irmãs, PRECISAMOS deixar de condicionar nossas meninas a ser um modelo social, PRECISAMOS...
Não sejamos ativistas pró humanistas, feministas, mães engajadas até a pagina dois, estamos numa era de protagonismo, empoderamento, de gritar por socorro quando necessário e também de fazer valer nossa voz, chega dessa opressão.
A sociedade precisa entender de uma vez por todas, que ALGUMAS de nós não queremos casar, não queremos ter filhos, não queremos passar pela experiência de um parto, de uma amamentação e quando QUEREMOS, nos deixem maternar em paz, não queremos ser frágeis, queremos ser mulheres com liberdade de escolha.

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